Alex Neres Universo automotivo e mobilidade urbana.
De carros importados vindos da França à consolidação como uma das grandes marcas no mercado brasileiro, a Renault tem uma ampla história no mercado automotivo do nosso país. Mesmo com um certo preconceito que ainda existe do consumidor com carros de origem francesa, os carros da marca sempre foram lembrados como boas opções de custo-benefício e confiabilidade, apesar de ainda sim, terem um custo de manutenção um pouco mais caro do que os concorrentes nacionais como Chevrolet, Fiat, Volkswagen e a nacionalmente saudosa Ford.
Em meados dos anos 90, o leque de opções da Renault era bem extenso. Compreendia desde o popular Clio, o monovolume compacto Twingo, que dividia opiniões acerca do seu design, o médio Mégane com suas opções hatch e sedan, o luxuoso Laguna e sua perua Nevada, além dos utilitários Express e Traffic. Em 1999, a empresa inaugura a sua fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná e entra para o rol das fabricantes nacionais com o lançamento da minivan Scénic. O carro que havia sido lançado em 1997 na Europa trouxe um novo conceito de design e otimização de espaço e de cara, caiu no gosto do brasileiro. Um ano depois, mais um carro espaçoso chegava: a multivan Kangoo.
Contudo a Renault começou a viver a síndrome de muitos fabricantes de matriz europeia: a defasagem de gerações. Os carros geralmente eram remodelados no velho mundo, porém estas atualizações demoravam anos para chegar aqui ou as vezes sequer chegavam. Com isso, os carros já chegavam aqui com aparência de ultrapassados e não conseguiam mais ser tão inovadores quanto outrora. A alegação era costumeira: seria muito caro produzir estas versões aqui.
Para driblar este problema, a Renault começou a fazer o uso de uma fabricante que era controlada pelo grupo, mas que fazia carros para mercados emergentes: a Dacia. Para quem não sabe, a Dacia é uma fabricante de carros da Romênia que fora fundada em 1966 e desde 1999 está sob o controle dos franceses. Visando uma diminuição do custo final, os carros desta marca possuem um design e acabamento mais espartano e oferta de equipamentos e motores mais reduzida. O plano era perfeito.
O primeiro produto dessa parceria foi o sedã compacto Logan. Desenvolvido pela Dacia em 2004, o simpático carro que mesclava modernidade simples e linhas quadradas caiu como uma luva na proposta da Renault. Fora difundido em todo o leste europeu e foi vendido com a chancela Renault na Rússia. O mesmo aconteceu no Brasil e o Logan se tornou o primeiro resultado desta Joint-Venture. Com isso, era preenchida a lacuna que fora deixada de lado com a defasagem clara do Clio Sedan e da falta de sucesso do Symbol. Porém ficava evidente a diferença do acabamento, bem mais simples. Mas a receita deu certo e as vendas começaram a subir.
Com isso, começaram a surgir outros modelos: veio o SUV Duster e depois a sua picape Oroch, o hatchbach Sandero, o médio Fluence. Todos de origem romena, vendidos pela Dacia, mas com nome Renault aqui. O Clio saiu de linha em 2017, tendo seu espaço de popular ocupado pelo Kwid, desenvolvido pela Renault indiana.
Porém, mesmo com esta consolidação de modelos da Dacia/Renault, o fabricante francês perdeu muito da sua identidade. Praticamente os únicos modelos que são vendidos pela marca no Brasil e que são efetivamente dela são os já citados Kwid, o SUV Captur e o elétrico Zoe, só. Diversos modelos que já existiram aqui ou que existem em outros países, como Argentina e na Europa sequer estão disponíveis para nós, como o Clio, Twingo, o Koleos (um SUV de maior porte), o sedã de luxo Talismã e a picape Alaskan.
Isso nivela a indústria automobilística do Brasil por baixo, pois é como se estivéssemos sempre relegados a ter produtos de qualidade inferiores aos da matriz. Mesmo hoje sendo bem equipados, muitos destes modelos não possuem o padrão de acabamento dos modelos europeus. Os itens de série e a motorização também estão cada dia mais limitados. Além disso, até mesmo o design não é uma unanimidade, como é muito visto no Duster e no Kwid. Este por sinal é um dos mais provoca controvérsia. Apesar de ser o carro mais barato do país, muitos criticam pela sua versão mais simples ter uma ausência de itens de série que deixam modelos dos anos 90 como modelos completos. Além disso, seu espaço interno é bem limitado, o que foge um pouco dos conceitos de ergonomia que a Renault tanto prezava no Twingo e no Scénic.
Para completar, na linha 2021, várias versões foram limadas dos modelos de entrada como Sandero e Logan. Ou seja, o mercado está cada vez mais limitado para o fabricante. Pode-se dizer que o brilho da Renault hoje está apenas nos comerciais com Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa. Os carros não tem destaque, identidade e não trazem inovação como outros fabricantes têm feito. Não deixaram de ser carros confiáveis e com bom custo-benefício. Mas para quem busca um carro que exale novidades e tenha uma identidade própria, os tempos da Renault ficaram para trás.
Alex Neres também é comentarista esportivo na Rádio 4 Tempos. Todas as Terças-Feiras, as 19h o programa 4 Tempos em 4 Rodas com tudo que acontece no mundo do automobilismo, além de análises e comentários sobre os lançamentos, tendências e novidades no universo automotivo.
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