Há dez anos, o Brasil perdeu um dos seus políticos mais promissores, Eduardo Campos, em um trágico acidente aéreo. O então candidato à Presidência da República pelo PSB representava uma esperança de renovação na política nacional, especialmente no campo progressista, que hoje, mais do que nunca, sente a ausência de novas lideranças com a mesma capacidade de articulação e visão de futuro.
O cenário político brasileiro, desde a morte de Campos, tem se mostrado estagnado em termos de renovação, principalmente na esquerda. Os partidos e movimentos que se dizem progressistas parecem incapazes de produzir lideranças que sejam ao mesmo tempo carismáticas e dotadas de um projeto de país convincente e inovador. Nesse contexto, Lula, que em outubro completa 79 anos, permanece como o principal nome da esquerda brasileira, algo que deveria ser motivo de reflexão para os que desejam um futuro diferente para o Brasil.
Eduardo Campos, com sua habilidade política e carisma, tinha potencial para ser um divisor de águas. Jovem, dinâmico, e com uma carreira marcada por vitórias importantes em Pernambuco, ele simbolizava a renovação necessária para enfrentar os desafios do século XXI. Sua morte, porém, deixou um vazio que até hoje não foi preenchido. A esquerda, desde então, parece mais preocupada em resgatar lideranças do passado do que em formar novas. As figuras que tentam emergir encontram dificuldades em se firmar e, muitas vezes, acabam replicando velhas práticas, sem apresentar uma agenda que dialogue com as novas demandas da sociedade.
Lula, por outro lado, resiste. Aos quase 80 anos, ele ainda é o nome mais forte quando se fala em conciliação política no Brasil. Sua trajetória de luta, desde o sindicalismo até a Presidência da República, passando por processos judiciais e prisão, é reconhecida até mesmo por seus adversários. Mas é justamente essa dependência de Lula que expõe uma fragilidade na esquerda: a ausência de um sucessor natural, alguém que consiga unificar as diversas correntes progressistas e ao mesmo tempo apresentar uma proposta inovadora e viável para o país.
Essa carência de novos líderes não se restringe apenas ao Partido dos Trabalhadores (PT), mas é um reflexo de toda a esquerda brasileira. Ciro Gomes, por exemplo, que tenta se posicionar como uma alternativa, não consegue romper a barreira dos seus próprios discursos polarizadores. Outros nomes, como Guilherme Boulos e Fernando Haddad, apesar de terem certa popularidade, ainda não demonstraram a capacidade de articulação política em âmbito nacional que Lula ou Eduardo Campos possuíam.
O cenário atual, com Lula como a principal figura de conciliação política, revela mais sobre a fraqueza da esquerda em produzir novas lideranças do que sobre a força de Lula. Isso é preocupante, pois um movimento político que não se renova corre o risco de se tornar irrelevante. O Brasil, com uma população majoritariamente jovem, precisa de líderes que compreendam as novas realidades do mundo digital, da economia sustentável e das transformações sociais que estão em curso.
A morte de Eduardo Campos, portanto, não foi apenas a perda de um político talentoso, mas também o início de uma década de estagnação na formação de novas lideranças na esquerda. É necessário que os partidos e movimentos progressistas se atentem para essa realidade e invistam na formação de novos quadros, sob o risco de verem sua relevância diminuir diante das mudanças aceleradas que o país enfrenta.
Enquanto isso não acontece, Lula permanece como o pilar de sustentação da esquerda brasileira, mas a pergunta que fica é: por quanto tempo? A história nos ensina que líderes são fundamentais, mas são as ideias que movem a sociedade. E, para que essas ideias prosperem, é imprescindível que novos líderes surjam para defendê-las e adaptá-las ao tempo presente. O Brasil merece e precisa dessa renovação.